Tem certas coisas que eu acho muito pessoais.
Travesseiro, por exemplo.
É uma coisa íntima, privada. É onde toda noite eu boto meus pensamentos, meus sonhos e pesadelos, minha cabeça, minha insônia.
E existem outras coisas nada pessoais. O cúmulo da impessoalidade, do distanciamento, da frieza.
Poltrona de avião, por exemplo.
Você compra a tua poltrona, mas isso não te dá direito a nada. Ou melhor, a ficar entalado por horas, se a viagem for longa, sendo chacoalhado nas turbulências, obrigado a comer tranqueiras, brigando da forma mais educada possível com o passageiro ao lado pela posse do braço da poltrona pra apoiar o cotovelo. Pra não falar do ódio que imediatamente você vê nascer em teu coraçãozinho ingênuo e meigo quando o fulano da frente resolve descer o banco e te joga a mesinha e tudo que tem nela no colo.
Eu sempre tive vergonha de misturar coisas pessoais com impessoais. Travesseiros com poltrona de avião. Tanto que ganhei um ursinho multifuncional, que objetivava ( o ursinho não objetivava nada, quem deu é que objetivava) me livrar das dores no corpo e na alma, alma de claustrófoba controlada mas não curada.
Mas resolvi dar um basta! As poltronas vão ficando cada vez menores, minha flexibilidade também, e não há urso que dê jeito.
Na próxima viagem, com ou sem constrangimento, vou carregar publicamente meu travesseirão, aquele dos sonhos, dos pesadelos, dos pensamentos e das insônias.
E ai do companheiro ao lado se vier disputar comigo o braço da poltrona…
Eu e meu travesseiro, juntos, somos muito mais poderosos!!
Taí o ursinho …
Maray, a Nina só dorme no travesseiro dela. Não aceita outro. Temos viajado quase todos os finais de semana e fica muito engraçado quando entramos nos hotéis. Eu carregando malas e ela com aquele baita travesseiro embaixo do braço. E, quando saímos do hotel, não sei por que, mas todo o pessoal em volta nos olha e sempre fica parecendo que estamos furtando um travesseiro.
Abração.