Eu sei que não é natal. Bom, acho que não mas outro dia ainda era 9 de julho e um outro foi junho, mas a gente está em maio. Olha, pode até ser Natal.
Bom, na varanda do meu vizinho é. O papai Noel está ali, de bunda para o sol de maio, junho ou dezembro, xii, deixa pra lá.
Está ali fazendo não sei o quê. Talvez arejando, talvez alguém entediado que resolveu começar já os preparativos de natal, vai saber… Minha mãe, por exemplo, dedicava o mês inteiro ao natal. E olhe que ela nunca foi religiosa. Não me lembro nem mesmo de ela ter ido assistir a minha primeira comunhão.
Mas ela começava limpando a casa. Não uma faxina qualquer, dessas que a gente faz a cada quinze dias ou mais, sabe como é, pandemia, ninguém tem entrado aqui em casa, não precisamos exagerar. Mas ela começava lavando as paredes. Todas. De cima a baixo. Depois limpava o chão de tacos, o que significava raspar o excesso de cera ( eu adorava fazer isso com gilete) e passar querosene ou removedor em todo o chão. Todo não. Na cerâmica da cozinha era soda.
Depois ela tirava toda a roupa dos armários e punha no quintal, ao sol. Limpava os armários por dentro e por fora, com carnaúba.
Depois ela polia todos os metais. Todas as maçanetas, chegando ao cúmulo de polir as dobradiças de latão. Meu irmão do meio ia para o sacrifício. Ele também tinha que limpar todos os lustres ( alguém já limpou lustre com contas de vidro? ) e arandelas. Ele era o mais alto da família.
Aí escolhia o mais bonito jogo de crochê, dos que a minha avó fazia ( crochê na minha família pulou geração: quem faz hoje sou eu) e trocava as toalhas da casa. Depois de ter engomado o jogo com maisena.
Aí, casa limpa, grama cortada no quintal, já faltava mais ou menos uma semana para o natal. Era a hora de fazer a lista do mercado. Dois ou mais dias antes, era a hora de cozinhar pra toda a família.
Daí acontecia o natal.
Daí acontecia, dois dias depois, meu aniversário.
“Mas essa menina tinha que ter nascido nessa época (como se fosse eu a responsável), dizia ela.
Não aguento cozinhar mais nada. Não sobrou um bolo aí na geladeira?
