Sabe aquela história de “de perto ninguém é normal?” Pois é, às vezes eu fico assustada. Começo a ser notada mais ao longe…
Eu já devo ter contado aqui que nas minhas noites de insônia eu fico me imaginando construindo uma cabana numa ilha deserta. Daquelas de toras de madeira, que dão um trabalhão pra construir, ainda mais que eu sou ruim de serra elétrica, na tal ilha nem tem eletricidade e no manejo do serrote eu deixo muito a desejar…bom, mas dá tanto trabalho construir sozinha a tal cabana que muito antes do fim eu já dormi. Nem a insônia resiste a isso.
Também gosto muito de decoração embora não seja daquelas que muda a casa a cada temporada. Não sou nem mesmo como a minha mãe, que na falta de grana e no muito que queria mudar a decoração da casa, trocava os móveis todos de lugar a cada tanto. Devo a essa mania as cicatrizes nas canelas que guardo até hoje. As coisas, principalmente à noite, nunca estavam onde deviam estar.
Mas gosto de mudar. Nesses inícios de ano fico olhando ao longe, perdida no que posso alterar. Roupa vario bastante. Compro sempre em brechós, então não me dói no bolso nem na alma me desfazer das coisas e colocar novas – pelo menos para mim – no lugar.
Natal a gente ganha presentes. Meu aniversário é colado, então eu ganho mais. Alguns eu peço, outros são surpresa, mas na minha idade sou difícil de ser surpreendida. Meu quarto hoje já ostenta um lindo ventilador de teto que ganhei. Prova de amor do maridão friorento que, apesar do ar condicionado, acedeu às minhas súplicas e deu o ventilador. Ele se cobre até as orelhas e eu fico lá, felizona debaixo do vento…
Mas o que eu queria mudar, mesmo, é a paisagem deste país. Menos miséria, menos discrepância, menos intolerância, menos ignorância.
Porque às vezes me pego sonhando acordada com a tal cabana na ilha deserta. E não é para tentar dormir, não.