Eram os anos de chumbo. Mesmo assim, com a ditadura e tantas prisões, tortura e morte, a gente casou. A vida seguia. A vida sempre segue.
E a gente curtia bastante, como até hoje curte, música. Não a dos mp3, 4, 5 ou que número for. A de vitrola. Aquela coisa grande, com uma agulha delicada (tão delicada e cara que o pó era capaz de afetá-la. O pó, aquela coisa que dá bastante nas ruas e fica em suspensão no ar e não aquilo que vocês podem estar pensando, embora ESSE pó também deva afetar, se não a agulha da vitrola, pelo menos as mãos que a manuseiem.
Voltando. Anos 70, vitrolas, tesão por vinis.
Vinil era – e é – lindo. Tem a capa, maravilhosa. Tem o encarte, grandão e completo, com as letras, com a biografia e discografia dos autores, com informações relevantes. Tem o ritual de por aquele bolachão no toca-discos. Pegar sempre pelos lados, pra não engordurar nem riscar o disco, acertar bem na faixa que se quer tocar, o que é quase uma cirurgia, envolvendo mãos e olhos.
Aqui em casa tinha que ter título de eleitor pra por a mão nos discos. Os filhos só obtiveram esse direito depois dos 18. Eles tinham lá os discos deles e hoje, pensando bem, não sei se eles não usavam o toca-discos em nossa ausência. Mas se o fizeram, fizeram com cuidado. Mais de 30 anos e o toca-discos aqui, intacto e funcionando. Garrard, sabe como é…Não, acho que vocês não têm idade pra saber, mas acreditem. É bom.
E havia duas lojas, basicamente, pra gente comprar discos. Com cabines, eu disse CABINES, pra ouvir os discos antes de comprá-los! Eu sabia que eram duas, eu sabia onde ficavam as duas, por sinal perto uma da outra, mas eu teimava em confundir as duas.
Breno Rossi e Bruno Blois.
Era ou não pra confundir?
Daí não deu outra. O primeiro filho que tive, bateu aquela dúvida quanto ao nome.
Bruno ou Breno? Eu amo os dois nomes.
Deu Bruno.
Mas podia ter dado Breno.