Quem tem boca vai a Roma.
Eu não queria ir a Roma. Não naquele dia. Não naquele momento.
Só queria ir ali, logo adiante.
Voltei à Salvador depois de 40 anos. Quase tudo mudou. Menos a cor do mar e a cor do acarajé.
Salvador mudou. Eu mudei e minha memória..nem quero falar disso. Então, há que se ter humildade e pedir ajuda, já que teria quase uma semana andando por lá, sozinha. Lembrava vagamente da cidade baixa, do Pelourinho, pouca coisa.
Chegar na Avenida Sete de setembro já foi uma aventura, de ônibus. Nem acreditei quando me vi lá. Tanto não acreditei que perguntei a primeira pessoa que vi, um rapaz.
Mas aqui é mesmo a Sete? É, disse ele. O que a senhora está procurando aqui?
Eu tive ímpetos de responder honestamente: “ procuro meu passado, filho”, mas achei que ia parecer declaração de puta velha. Mas era o que eu procurava e não achei. A memória da primeira vez em que lá estivera, num hotel cuja sala de refeição parecia capela de igreja italiana, toda pintada no teto. Foi demolido há décadas. E a rua foi tomada pelo comércio formal e informal.
Voltei até a Castro Alves. Queria saber onde tomar ônibus de volta. Perguntei novamente a um velhinho, provavelmente dono de gentileza e conhecimento maior que os jovens.
Sorriu pra mim, o velhinho. A senhora sobe e vira à esquerda. Simples assim!
Olhei pra direção apontada, onde a rua descia em ladeira íngreme. Como assim? Subo onde?
Ah, responde ele. É que depois dessa descida tem uma subida. Simples assim.
Ah! E daí viro à esquerda?
É, disse ele, me apontando o braço. Pro lado direito.
É isso. Simples assim.
Em Salvador, como os soteropolitanos ( que palavra, meu deus!): enchi-me de paciência e desci e virei à esquerda.
Ou subi e virei à direita.
O importante é que cheguei.
Estressar pra que, meu rei?