Parece que o difícil nessa vida é sempre terminar. Terminar um caso de amor, terminar um trabalho, terminar uma viagem, terminar a própria vida.
Ninguém nunca fala da dureza que é começar.
Começar significa o medo do que possa acontecer. É o desconhecido, mesmo quando se começa alguma coisa relativamente conhecida. O desconhecido que o futuro sempre representa.
Começar significa ter um mínimo de planejamento. Um mínimo de olhar para o futuro, uma vez que o começo pressupõe continuidade.
Algumas coisas a gente começa sem ter a menor noção. A vida, por exemplo. Eu comecei assim, quase do nada, quando vi já estava aqui, vivinha. Meus pais provavelmente sabem do meu começo, mas eu só sei mesmo depois que ela – a vida- já tinha começado há uns quatro ou cinco anos.
Outras coisas pela vida comecei sem saber no que ia dar. Hoje, que já comecei tantas e tantas coisas na vida, sei que nunca se sabe de antemão no que vai dar. Acho que é a isso que chamamos experiência. O saber que pouco ou nada sabemos.
Comecei faculdade, comecei vida a dois, comecei a pedalar, comecei a trabalhar, comecei, comecei.
Terminei um monte de coisas também. Mas o término não tem futuro, só passado. Porque o que vem a seguir ao fim é outro começo.
Começar significa caminhar decididamente – e às vezes claudicantemente – em direção a algo que queremos mas não sabemos se virá. A gente tenta. A esperança é sentimento que acompanha o começo, não o fim.
Gosto de começos. Morro de medo deles, mas gosto. Além da esperança, é a sensação de descobrimento. Aquela coisa que um velejador de antigamente devia ter a cada onda que poderia aproximá-lo de alguma terra nova. A sensação do caderno novo no primeiro dia de aula. A sensação da estrada nova a cada curva. Dá um puta medo, um frio no estômago, uma vontade de voltar às vezes, de onde se saiu e dizer : não brinco mais!
Mas e a esperança? Eita bichinho que bota a gente pra frente! Fica ali, dando chutes em nossa bunda, empurrando com o pé, ventando na nuca. A esperança faz avançar o que o medo quer fazer recuar.
Começo é difícil. Recomeço mais difícil ainda, porque é o medo de errar duas vezes no mesmo caminho.
Mas os caminhos, nesta vida, jamais se repetem.