Dia 21 de dezembro o mundo vai acabar, ao que consta.
Tenho um montão de coisas a fazer até lá. Minha revalidação da carteira de motorista, um check-up dentário (quero ser uma defunta cheia de muitos e bons dentes, que afinal, é o que sobra), a poda das árvores e plantas do meu jardim, uma troca de vasos das arecas que já cresceram demais. Ninguém explicou “como” o mundo vai acabar, então posso supor que talvez a natureza se salve, e eu sempre cuidei da parte que me cabe nesta flora. Nesta fauna também, que o digam aquelas vira-latas tratadas como ladies aqui em casa.
Bom, se o mundo acaba dia 21, eu talvez não vá usar a passagem aérea que comprei para o dia 23. Em todo caso, melhor aguardar até a última hora. Nessa época é o “fim do mundo” arranjar novas passagens…
Também não comemorarei meu aniversário, dia 27. O que, na minha idade, não chega a ser uma má idéia. Eu já tinha pensado em algo do tipo, desde que passei dos sessenta.
Também não sei se compro ou não os presentes de natal e de aniversário dos filhos, todos encavalados nessa época. O Natal e os aniversários. Talvez deixe pra depois. Se o mundo acabar, economizo. Se não acabar, economizo mais ainda, porque comprar nesta época não sai barato. Melhor esperar as liquidações de verão, se o mundo sobreviver.
Bom, então é isso.
Se só tivermos até o dia 21, quero deixar tudo arrumadinho. Como minha mãe e minha avó, que separavam uma roupa para o “enterro”. Delas. Tanto uma como outra tinham uma roupa separada no armário que queriam usar no caixão. Afinal, não é toda hora que se morre e velório sempre vem um montão de amigos e outros nem tanto, que ficam reparando no morto.
Venho de família de mulheres pragmáticas e não fujo à regra. Vou deixar de lado meu melhor vestido.
Mas, péra lá! Se o mundo acabar, quem vai me enterrar? Quem vai me velar? Quem vai me chorar?
Que coisa…talvez seja melhor marcar uma super milonga pro dia 20. Já que é pra acabar, me acabo antes num tango argentino, que é a melhor maneira de acabar.
Pensando bem, melhor que o mundo não acabe tão cedo. Esqueci que marquei com o filhão de conhecer a terra do blues e isso não vou perder por nada.
Nem que o mundo acabe!