Hoje acordamos juntos, por volta das oito horas. Faz tempo que a gente acorda juntos.
Tudo sempre igual mas tudo sempre diferente, porque os dias não se repetem, nem as águas do rio. Mas vá lá, depois de tanto tempo, certas rotinas se estabelecem.
Banheiro tem um só dentro de casa, mas nunca teve briga. Nossas urgências podem esperar.
Na cozinha, mesa posta por ele, sempre. Meu remédio ao lado da xícara, vai que eu esqueça…
Depois, toca ler o jornal e começar a rotina do dia. Juntos.
E assim a vida segue. Hoje sozinhos, filhos fora de casa, cachorras no quintal. Dois escritórios, o meu e o dele, porque se o banheiro é um só os computadores são muitos. De vez em quando um vai ao escritório do outro, dá um beijinho, leva uma fruta, comenta o dia e o céu, mostra alguma coisa no micro.
A tarde chega, a agenda pode mudar para um ou para o outro. Mas o lazer é junto. A academia, a dança, as andanças.
E assim caminha a humanidade, assim la nave va e assim a gente vai chegando ao fim deste dia, mesmo dia no qual, há 41 anos atrás, a gente casou.
Pragmáticos, casamos um dia antes do dia de São Paulo, sempre feriado. Um dia a mais de lua de mel, de dias úteis contados.
E assim vai chegando a noite do dia em que ambos esquecemos o aniversário de casamento…
Será que tem Alzheimer compartilhado??
PS: eu lembrei, sim. Quando olhei a data do computador. Ele ainda não.