Tinha o tal do feijão posto em algodão molhado. Eu fiz isso. Eu e todo mundo da minha idade. Não sei se a garotada de hoje terá alguma curiosidade em saber como nascem os feijões ou os homens.
Mas eu botei o feijão no algodão molhado. Depois de uns dias, sei lá quantos, ele brotou e surgiu a plantinha. Depois de mais uns dias eu fiquei de saco cheio de olhar pro feijão. Ele não dava outro feijão, eu achei a coisa assim meio lerda pro meu gosto.
Mas aí me falaram do milho. E minha avó, coberta de bom senso, mandou-me plantar um milho no quintal e regá-lo. Eu escolhi um canto, que nosso quintal tinha muitos, quintal de antigamente, cheio de árvores frutíferas, um pouco de grama, um montão de roseiras e onze horas. Escolhi um canto junto ao muro e plantei.
E nos próximos dias, todo dia eu abria de novo o buraco e olhava o milho.
Não sei como ele sobreviveu, mas sobreviveu.
E nasceu aquele pé bonito, verde claro, que crescia que era uma beleza.
E ao fim de um certo tempo – nem foi tanto, pois agüentei esperar – a espiga lindona.
Tá bom, essa eu não esperei amadurecer, arranquei verde mesmo, e comi cozida. E brinquei um monte com os cabelinhos do milho. E guardei as palhinhas de recordação.
E guardei um monte de outros milhos pra plantar de novo, mas ou esqueci, ou eles não nasceram, ou o fato de tê-los fervido trouxe algum dano…
O fato é que dessa experiência botânico-afetiva me sobrou a recordação do meu primeiro milhão e uma certa fixação por cabelos cor de espiga de milho, que graças a deus e a Loreal, se resolveram pra mim há mais de uma década.
O primeiro milhão a gente nunca esquece.